terça-feira, 1 de junho de 2010

Mar Adentro

Ramón Sampedro

Mar adentro, mar adentro
nesse fundo onde não há mais peso,
onde se realizam os sonhos,
se juntam as vontades
para cumprir um desejo.

Um beijo acende a vida
com um relâmpago ou um trovão,
e numa metamorfose
o meu corpo não é mais o meu corpo,
penetrando o centro do universo.

O abraço mais verdadeiro
e o mais puro dos beijos,
até nos ver-mos reduzidos
a um único desejo:

O teu olhar e o meu olhar
como um eco que se repete, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até mais além de tudo o resto
pelo sangue e pelos ossos.

Mas de todas as vezes acordo,
e quero sempre estar morto
para seguir com a minha boca,
enredado nos teus cabelos.

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